Ele pensava que tinha cometido um crime perfeito. Por vários anos agora, seu estratagema parecia ter tido êxito. Seu emprego no governo havia-se revelado um degrau certo para o sucesso financeiro. Seu salário mensal parecia uma piada em comparação com a quantia que ele regularmente desviava.
Às vezes ele se preocupava um pouquinho. Quanto mais conseguia amealhar, mais parecia gastar. Mas sua esposa gostava de coisas boas, seus filhos estavam acostumados com a boa vida, e assim ele deixou de lado seus temores e continuou levando avante seu plano.
Então, um dia todo o seu mundo desabou. Auditores examinaram inesperadamente as contas em minúcias e ele não teve tempo de acobertar suas falcatruas. Para seu desalento, foi detido e acusado de dever dez milhões de dólares ao governo. Não podia imaginar para onde tinha ido o dinheiro. Não sabia dizer o que sucederia com ele agora. Sua esposa e filhos seriam humilhados. Sua linda casa seria apreendida e o resultado da venda aplicado para abater seu débito. Mas mesmo com a liquidação de todo o seu patrimônio, ele ainda ficaria devendo milhões. E como poderia esperar montar outro esquema para recuperar suas finanças, se permaneceria por algum tempo na cadeia?
Finalmente, chegou o seu dia no tribunal. Ele fez a única coisa que estava ao seu alcance. Apresentou-se perante o juiz e confessou-se culpado, como requeria a acusação. Mas apelou à misericórdia da corte suplicando tempo para fazer a restituição. Para sua surpresa, o juiz suspendeu-lhe a sentença, conquanto tivesse sido considerado culpado. Ele saiu do tribunal como um homem livre. Mas não estava realmente livre. Pois tinha posto na mente que de alguma forma devolveria o dinheiro que havia embolsado. Fosse como fosse, ele sentia que permaneceria como devedor do governo para sempre.
No caminho para casa, apresentou-se-lhe a primeira oportunidade. Encontrou um companheiro de trabalho que lhe devia 30 dólares. Não era muito, mas já era um começo, e, além do mais, ele agora teria que viver por seus próprios meios, sem a ajuda de rendas extras. Assim, ele exigiu os 30 dólares.
Seu colega de trabalho alegou não dispor dessa quantia. Mas a dívida já era antiga, e ele já tinha sido por demais generoso. Assim, ele apresentou queixa contra o homem em um tribunal de pequenas causas.
Poucos dias depois, quando o caso veio a julgamento, o juiz que presidia a corte era o mesmo que o havia deixado livre. Quando o juiz viu que o queixoso era o mesmo homem que recentemente estivera, ele mesmo na corte, ficou irado. Tomou imediatamente as medidas necessárias para impor outra vez a sentença suspensa. E o homem foi levado à prisão, enquanto suas acusações contra seu colega de trabalho eram retiradas.
Este relato, registrado em S. Mateus 18, ensina uma verdade importante sobre o perdão. O perdão de Deus é ilimitado. Nossa aceitação de Seu perdão é que às vezes é limitada, e entra em curto-circuito Seu plano para livrar-nos da condenação por nossos pecados.
Jesus narrou esta história em resposta à pergunta de Pedro quanto à freqüência com que deveria perdoar a seu irmão. Jesus deu Sua famosa resposta dos setenta vezes sete, indicando a infindável misericórdia de Deus para conosco.
Setenta vezes sete não significa que Deus mantém uma tabela, e quando alcançamos as 490 vezes, então acabou. Seu perdão não conhece limites. Mas freqüentemente nos tornamos descoroçoados e envergonhados, e paramos de pedir. Deixamos de buscar o Seu perdão, porque julgamos que já fomos longe demais. Assim, colocamos em Seu perdão limites que Ele jamais intencionou.
Ou podemos achar-nos simpatizando com o homem da história. Esse homem que teve o perdão de sua dívida em 10 milhões de dólares, nunca realmente aceitou o perdão oferecido. É verdade que ele suplicou misericórdia, mas “quando o devedor pediu ao seu senhor misericórdia, não tinha verdadeiro conhecimento do vulto da dívida. Não reconheceu seu estado irremediável. Tinha esperança de livrar-se a si mesmo.” –Parábolas de Jesus, pág. 245.
Seu tratamento para com o colega demonstrava sua falha em aceitar o perdão oferecido. E, quando o juiz reverteu a sentença e mandou-o para a prisão, em realidade estava meramente aceitando a própria escolha do homem. Pois Deus nunca força ninguém a aceitar o Seu perdão.
Quando vemos a verdadeira enormidade de nossos pecados e nosso total desamparo para livrar-nos a nós mesmos, não devemos desesperar-nos. Quanto maior for nosso débito, maior será nossa necessidade da misericórdia de Deus e Seu perdão. E devido a Seu grande amor, não há nada que Deus mais deseje do que perdoar-nos e dar-nos liberdade.
- segunda-feira, dezembro 29, 2014
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